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Colheitas e Vindimas

Antigamente, um antigamente que é de ontem, os picoenses, pela ilha à roda, dedicavam-se à colheita das uvas e, um mês depois, à apanha dos milhos. Era uma época de fartura.

Não faltavam as uvas nos lagares, não importa qual a casta, e,  depois, o milho nas atafonas. Tudo tinha o seu tempo e era cumprido com religioso respeito. Mas, infelizmente, os tempos mudaram.

Os temporais agrestes da primavera destruíram a floração das vinhas e das fruteiras. Os figos vieram tarde e não amadurecem, convenientemente. O mesmo acontece com as vinhas. Os velhos ditados já não têm aplicação: Por São Lourenço, vai à vinha e enche o lenço. Eram as primícias de uma colheita que, normalmente, era abundante. Agora, como se diz acima, já não há produções abundantes. Já se iniciaram, por estes lados do Sul, as vindimas. Mas elas são tão fracas que os vinhateiros se sentem desgostosos e alguns já vão abandonando as suas “vinhas” ou terras de cultura da vinha. E em substituição, aparece uma vegetação selvagem a assenhorear-se de todos os campos livros.

Os terrenos de semeadura não estão de melhor aspecto. Demais já pouco se cultiva o milho e o trigo, praticamente, desapareceu  dos nossos campos. É, como diz o povo, uma tristeza passar por esses campos e vê-los, ou a pasto para os gados ou simplesmente incultos.

E o Pico precisa voltar a trás. Cuidar dos seus terrenos e deles tirar as produções indispensáveis ao seu sustento diário. Importar cereais do estrangeiro é esvaziar as divisas nacionais e caminhar para a pobreza a passos largos. Alegarão que faltam os braços para trabalhar os campos, como antigamente. Hoje há máquinas especializadas que, em parte, substituem a mão do homem. É preciso, no entanto, adaptá-las à natureza dos terrenos. Mas isso não pertence somente ao proprietário agrícola. Há que tomar medidas urgentes e adequadas para que se evite o pior.

Aquando do conflito mundial de 1939-45, a ex-Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta deliberou premiar os proprietários que procedessem à arroteia dos prédios incultos ou de lenha, e igualmente premiava aqueles que procedessem ao despedregoamento ou limpeza dos terrenos, para facilitar as culturas.  E muitos o fizeram, aproveitando esse pequeno auxílio pecuniário. Depois, veio a emigração. Faltou a mão de obra e tudo voltou ao estado primitivo.

Há pois, que voltar atrás e voltar a limpar os terrenos, tal como fizeram os povoadores, e proceder ao seu completo aproveitamento, produzindo-se o milho, o trigo, a batata, e outros produtos mais, para que a ilha não volte a ficar deserta e entregue à passarada.

É desolador o que hoje se nos depara ao contemplarmos essas ladeiras que outrora eram terrenos de cultivo e hoje são ocupadas por uma arborização bravia de faias, incensos, canaviais, “roca-de-velha” e outras plantas infestantes. Os terrenos das Ladeiras, estendidas pela encosta à ilharga das habitações do lado leste da antiga rua direita, produziam os cereais – trigo e milho – para o sustento. Se não anual, quase, dos respectivos agregados familiares. Hoje, é o que se vê... Assusta, na verdade, espraiar o olhar por esses campos.

E repito: É preciso voltar à época do descobrimento e  limpar os terrenos para os tornar produtivos de bens essenciais à subsistência dos povos.
“Parar é morrer”, diz o velho refrão.

 

 

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